Negócios / O glaucoma está entre as principais causas de cegueira no mundo, ao lado da catarata, dos erros refrativos não corrigidos, da retinopatia diabética e da degeneração macular relacionada à idade. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 7,7 milhões de pessoas vivem com o comprometimento da visão causado pela doença.
A perda visual provocada pelo glaucoma pode ocorrer em semanas ou levar décadas para se instalar, dependendo do tipo e do estágio da doença. A avaliação é da oftalmologista Rinalva Vaz, do Hospital de Olhos Santa Luzia, integrante da rede Vision One, e membro da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG). “Clinicamente, podemos definir o glaucoma como uma neuropatia óptica progressiva com dano estrutural característico no nervo óptico e na camada de fibras nervosas da retina, com consequente defeito funcional no campo visual”, pontua.
De acordo com a Dra. Rinalva, a progressão do glaucoma é avaliada com base em dois critérios técnicos: o dano estrutural ao nervo óptico e a perda funcional no campo visual. Em outras palavras, a capacidade de enxergar. Um dos principais sinais estruturais é a escavação — um “afundamento” observado em exames, que indica a perda de fibras nervosas. Quanto maior a escavação, maior o comprometimento da visão. Com base nesses parâmetros, os casos são classificados como iniciais, moderados, avançados ou terminais.
No início da doença, a oftalmologista detalha que podem surgir pequenas falhas periféricas, geralmente restritas a um dos hemicampos — superior ou inferior. Nessa fase, a escavação do nervo óptico costuma estar acima de 0,6, e pode haver diferença perceptível entre os dois olhos.
No estágio moderado, os defeitos se espalham por regiões superiores e inferiores da visão, mas o centro ainda está preservado. Nessa etapa, a glaucomatóloga salienta que a escavação do disco óptico tende a variar entre 0,7 e 0,8, com perda mais difusa de fibras nervosas.
No glaucoma avançado, as áreas afetadas se aproximam da visão central, e a escavação atinge 0,9 ou mais. Já no estágio terminal, a Dra. Rinalva alerta que o campo visual pode estar quase ausente, e os exames mostram atrofia total do nervo óptico.
A velocidade de avanço da doença
A forma como o glaucoma compromete a visão varia bastante entre os pacientes. Segundo a Dra. Rinalva, o tipo de glaucoma interfere diretamente no ritmo de progressão, sendo que o glaucoma de ângulo aberto costuma evoluir de forma lenta e silenciosa. Já o de ângulo fechado pode causar perda visual severa em poucos dias, especialmente durante crises agudas. “O bloqueio súbito do escoamento do humor aquoso [líquido que preenche a parte frontal do olho] causa elevação brusca da pressão intraocular, de 40 a 70 mmHg, e pode causar dano irreversível em dias a semanas se não houver intervenção”, afirma.
A médica cita um estudo populacional realizado em Minnesota, nos Estados Unidos, que estimou as chances de cegueira após 20 anos de diagnóstico. Pacientes que já apresentavam alterações no nervo óptico ou no campo visual tinham 54% de probabilidade de ficarem cegos em pelo menos um olho e 22% em ambos. Entre aqueles sem sinais de dano no momento do diagnóstico, os índices foram de 14% e 4%, respectivamente. “A evolução é muito variável entre indivíduos”, reforça.
Outros elementos também influenciam na velocidade desse avanço, como pressão intraocular elevada, espessura corneana fina, histórico familiar e doenças sistêmicas mal controladas, a exemplo do diabetes. Segundo a especialista, alguns tipos de glaucoma apresentam comportamento mais agressivo, como o de ângulo fechado, o pigmentário (causado por pigmentos que obstruem a drenagem) e o pseudoexfoliativo (marcado pelo acúmulo de uma substância no interior do olho que dificulta o escoamento do líquido ocular).
Além disso, fatores comportamentais também têm impacto relevante. A Dra. Rinalva chama atenção para a adesão irregular ao tratamento, o atraso nas revisões oftalmológicas e hábitos como tabagismo, uso prolongado de corticoides e apneia do sono, que podem acelerar a progressão da doença.
A importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce tem o potencial de mudar completamente a linha do tempo da doença. “A detecção de alterações estruturais ou funcionais iniciais, antes de sintomas ou perda funcional significativa, interrompe ou desacelera fortemente a progressão da doença, sendo possível manter a visão satisfatória durante toda a vida”, revela a médica.
Apesar disso, a maior parte dos casos ainda chega ao consultório com algum grau de comprometimento. “Embora os números variem por região e tipo de serviço (público e privado), a maioria dos estudos e observações de prática clínica mostram que, entre 50% e 70% dos pacientes com glaucoma chegam pela primeira vez já em estágio moderado ou avançado da doença. Na minha prática clínica, em torno de 50% dos pacientes já chegam com sinais de glaucoma”, relata Dra. Rinalva.
O acompanhamento após o diagnóstico
O acompanhamento periódico com o oftalmologista varia conforme o grau da doença. Em casos leves, a recomendação é de retorno a cada 6 a 12 meses. No estágio moderado, esse intervalo é reduzido para 4 a 6 meses. Pacientes com glaucoma avançado devem ser acompanhados com frequência ainda maior: entre 1 e 3 meses. Segundo a médica, esse intervalo pode ser ampliado em casos estáveis, mas jamais deve ser suspenso.

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