RELEASES EMPRESARIAIS

QUARTA-FEIRA, 21 DE MARÇO DE 2018 - Horário 15:05

Cooperativa indígena Paiter enfrenta cerco de madeireiros e exploradores em Rondônia
Governo / Primeiro foi Chico Mendes, em Xapuri, no Acre. Ele lutou para defender os seringueiros da Amazônia, num desafio aos grandes fazendeiros. Morreu pela bala de um assassino a soldo em dezembro de 1988.

Depois, foi a vez da missionária norte-americana, naturalizada brasileira, Dorothy Stang, em Anapu, no Pará. Ela dedicou décadas de sua vida em favor do meio ambiente e dos trabalhadores rurais da Amazônia, desafiando também grandes proprietários de terras. Morreu a tiros com a Bíblia nas mãos em fevereiro de 2005.

Quem está na linha de tiro agora é uma cooperativista, em Cacoal, Rondônia. Elisângela Suruí também desafia os madeireiros e exploradores da Amazônia. Em 30 de novembro passado, ela e o enteado foram atacados por pistoleiros. Ao contrário dos dois exemplos anteriores, ambos escaparam ilesos. Mas foi por muito pouco.

Elisângela e o marido, o cacique Anine, lideram a Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Indígena Paiter (Coopaiter), que cultiva e comercializa produtos como banana, café, mandioca e castanha. Trata-se do único grupo indígena de Rondônia que participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal. Na aldeia Nabecob Abalakiba, a 45 quilômetros do centro de Cacoal, 20 famílias da etnia Paiter-Suruí compõem a cooperativa, criada em outubro do ano passado - mas que em tão pouco tempo já incomoda gente poderosa, armada e perigosa.

Mas por que haveriam de querer eliminar a líder de uma simples cooperativa? Em primeiro lugar, a Coopaiter não precisa dos atravessadores, que exploram e lucram com o trabalho alheio, atrapalhando os negócios de uma verdadeira máfia que historicamente estrangula a agricultura familiar brasileira e que fazia o que bem entendia na região.

Em segundo, a cooperativa teve a coragem de expulsar um grupo de madeireiros que estava roubando suas castanhas e derrubando as árvores para transformar a área em pasto. Elisângela e seu marido não têm como provar, mas desconfiam que o atentado contra eles tenha sido uma represália pelo confronto com os madeireiros.

Filha de caminhoneiro e Educadora Nota 10, Elisângela abraçou a luta da tribo Paiter Surui

Elisângela Dell-armelina Surui tem algo mais em comum com Chico Mendes e a Irmã Dorothy. Assim como o seringueiro e a freira, ela já vinha chamando a atenção de pessoas no resto do país. No ano passado, ganhou o prêmio Educadora Nota 10, conferido pela Fundação Victor Civita (ligada à Editora Abril), entre mais de cinco mil concorrentes de todo o país. Seu feito foi criar um material didático na língua da tribo para que as crianças fossem alfabetizadas no idioma que falavam em família e, só então, aprender o português. A ideia da cooperativa veio em seguida, com o mesmo objetivo: unir seu povo e dar ferramentas para resistir à opressão dos poderosos. Pela reação a bala, deve estar dando certo.

Elisângela não é indígena. Filha de um caminhoneiro, ela nasceu em Rondônia, mas cruzou o país e viveu no Espírito Santo até terminar o Ensino Médio. Com saudades da avó, viajou até Cacoal e não foi mais embora. Envolveu-se com a tribo Paiter Suruí, casou-se com o cacique e está mudando Cacoal. Ela e seus inimigos sabem que 20 famílias isoladas não são nada. Unidas numa cooperativa, valem 200. Que o Brasil não deixe que Elisângela repita a sina de Chico e Dorothy.

Fonte: Revista EasyCOOP
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