A diretora de marketing do Google, Susana Ayarza, escreveu no canal Think with Google, em março deste ano, texto sobre os desafios ainda hoje colocados às mulheres em suas carreiras. Se, por um lado - como ela contextualiza -, “as mulheres são maioria da população no Brasil. Vivem mais tempo, têm mais educação formal e ocupam 44% das vagas de emprego registradas no país”, por outro, menos de 3% delas ocupam os cargos mais altos em trabalhos corporativos.

Entretanto, a oportunidade de as mulheres atuarem na linha de frente parece não estar no emprego formal, mas na criação de seus próprios negócios - uma tendência que vem aumentando, e muito, no Brasil. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feita em parceria com o Sebrae, 51,5% dos empresários brasileiros, em 2016, já eram mulheres - o que chega a 8 milhões de empresárias atuando no país e, segundo estudo, em igualdade de condições com empresários homens. 

Para aproveitarem a oportunidade aberta, mulheres de diferentes formações têm investido no próprio negócio, a exemplo da consultora de sono materno-infantil Lígia Coimbra. Durante 20 anos, ela havia clinicado em seu consultório odontológico, em Marília, no interior de São Paulo, mas, depois de uma experiência de quase-morte, em 2015, decidiu mudar de carreira - e de prioridades: e abriu um negócio que, hoje, já lhe proporciona rendimento cinco vezes maior do que tinha como cirurgiã-dentista.

Na época, ela já escrevia em seu blog “Mães Comadres”, voltado para mulheres que têm muitas dúvidas e inseguranças sobre os cuidados da gestação até o nascimento do bebê. “Eu tenho três filhos e montei um blog para mães, mas comecei a pesquisar maneiras de monetizá-lo e de torná-lo um negócio lucrativo e sustentável na internet”, compartilha a consultora. Em buscas no Google e YouTube, Lígia conta que se interessou por conteúdos de estratégias de marketing digital ensinadas pelo empresário e treinador Conrado Adolpho, que criou o Método 8Ps (8 Passos) para alavancar vendas em pequenos e médios negócios.

Ela estava na antessala do Conselho Regional de Odontologia, dando baixa em seu registro de dentista, quando recebeu um e-mail de aceite para entrar no programa de mentoria de Conrado Adolpho. Em janeiro de 2016, a partir de orientações com estratégias de negócios recebidas, ela criou o seu primeiro modelo de negócios: um curso on-line para orientar recém-mães nos cuidados de bebês - aproveitando a experiência anterior como blogueira. “Demos o nome para o curso de Recém-mamãe, que são vídeo-aulas como se fossem um guia para bebês. Trabalhei um ano e meio nesse modelo, mas, seguindo as orientações do Método 8Ps, entendi que uma das maiores dores das mães, que procuravam esse guia on-line, era o sono do bebê, aí, criei o curso on-line avançado Recém-mamãe-sono”, explica.

Desde então, Lígia Coimbra faz cursos e atendimentos on-line, aproveitando o meio digital para atuar como consultora de sono. Chamada para dar um depoimento ao evento 8Ps Live - conduzido por Conrado Adolpho e que, hoje, se transformou na Imersão 8Ps -, Lígia Coimbra confessou que, para o seu negócio dar certo, ela precisou vencer a barreira de não estar conectada com as ferramentas digitais: “Eu sou dentista de formação, não entendo nada de ferramentas, e isso foi uma barreira que tive que vencer, além da minha timidez para gravar vídeos, expor minha família e meus filhos nas redes sociais. Eu nem tinha Facebook antes de entrar nesse negócio”, ela confessou diante da plateia, naquela época, com ares tímidos.

Mas, hoje, Lígia Coimbra tem 191 mil seguidores no Facebook, mais de 300 mil visualizações em seu canal do YouTube e já chegou a juntar sete mil mães em sua Live, às 14h30 - uma audiência respeitosa.

“Por dois anos, fui trabalhando como consultora de sono e, depois, criei outro modelo de negócio, com hora marcada, para atender clientes on-line. Aí, eu comecei a entender que o meu problema já não era mais de ter mais clientes, era de escalar o meu negócio, porque o meu tempo é finito. Foi por isso que, em fevereiro deste ano, eu fundei o Instituto Recém-Mamãe - uma escola para formar novas consultoras de sono, que serão profissionais capacitadas para orientações e mudanças de hábitos, necessários para ajudar no sono do bebê.

ABRIR O NEGÓCIO É SÓ O PRIMEIRO PASSO. DEPOIS, ESCALAR

Lígia Coimbra conta que, a partir de seus cursos on-line, ela já beneficiou mais de 1.700 mulheres. Agora, com a criação do curso de consultoras do sono, desde fevereiro deste ano, ela já está na segunda turma, com mais de 30 profissionais formadas, e a terceira turma iniciará em agosto. “Eu não teria braços para atender a esse tanto de mães que precisam de ajuda, então, decidi criar esse curso de multiplicadores. Quando a gente vira mãe, a gente se apaixona pelo tema e acaba atraindo essas mulheres que, hoje, também enxergam o tamanho desse mercado gigante”, avalia.

Uma das clientes, que concluiu o curso de consultora do sono pelo Instituto Recém-Mamãe, formou-se em pedagogia e trabalha com educação infantil em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Percebendo os benefícios da consultoria de Lígia Coimbra para o sono de sua segunda filha - e, em consequência, para ela própria atravessar o período da licença-maternidade -, Juliana Barreto se inscreveu no curso para, assim como Ligia, ajudar outras mulheres.

“Quando a Ligia abriu o curso de consultoria, eu fiquei com muita vontade de fazer, porque eu queria uma oportunidade para trabalhar em algo com horários mais livres, que me desse mais oportunidade de acompanhar o dia a dia das minhas filhas. Hoje em dia, eu já me formei e já estou ajudando outras mamães”, Juliana compartilha.

Lígia Coimbra, a criadora desse método para ajudar outras mães, conta que trabalha em frente ao computador, calçando meias - uma oportunidade que a internet proporciona para diferentes segmentos, como é o caso de mulheres que querem montar - e fazerem crescer - o seu próprio negócio. "O mundo digital tem me encantado cada vez mais e estou focada em me aprofundar nessa área on-line”, Juliana Barreto finaliza.